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segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Adeus Monika


Foto: Monika ao centro. Ao seu lado, Guará e Rose. Festa da Gis, Maio de 07.
Conheci a Monika em 1988, no meu grupo de terapia. Eu havia acabado de perder o papai e estava em uma crise braba. Depois de quebrar móveis em casa, decidi que precisava de ajuda. Cheguei ao Alfrefo Simonetti por indicação de uma amiga em comum. Psicólogo, ex-bancário, carismático e talentoso, seu consultório ficava atrás do Shopping Eldorado. Como eu estava mal, ele sugeriu uma abordagem terapêutica dupla: Individual e em grupo. Também me propôs um pacto de não suicídio. O Alfredo trabalhava com AT (Análise transacional), Meditação dinâmica e Renascimento (técnica de regressão através da hiper-ventilação). O nosso grupo de terapia era o seguinte: A Monika, que trabalhava na escola suíça. A Rosana, que também dava aulas de arte e era meio doidona. A Cris, uma graça de pessoa, sensível, inteligente, morava num apartamento na Pompéia. Era um tipo de mulher que me atraia no início, mas quando eu me aproximava e conhecia o tamanho da carência dela, saía correndo. O João, um dentista briguento, que curtia a minha companhia, (mas eu não estava muito interessado nele). Um judeu gordinho que eu curtia, mas esqueci o nome. E eu, 21 anos, o mais perdido e confuso de todos.
Fizemos o curso 101 (introdução à analise transacional) e alguns workshops, por sugestão do Alfredo. Lembro-me que a Mônika trabalhava muito a mensagem inconsciente que na AT se chama “seja esforçado”. Uma tendência a se apegar ao esforço exagerado. Fazíamos também meditação dinâmica do Osho. O Alfredo era sanyasi (Discípulo). Anos depois, pensei que ao me formar como terapeuta haveria uma chance de a Monika se interessar em fazer terapia e meditação comigo. Sugeri a ela começar em um de meus grupos, mas ela não quis. “eu tenho uma filha faminta em casa esperando a janta” respondia. Quando saiu da casa de sua mãe e alugou seu primeiro apartamento, ainda freqüentávamos os amigos da terapia. Esse era na época um grande projeto de vida seu, sair da casa de seus pais e superar a dependência emocional em relação a eles. Houve uma festa de inauguração. Em um dos quartos do apartamento apertado, ficava o seu Atelier com muitos quadros pintados ou ainda pela metade. Ela ficou um ano lá. Senti inveja de sua conquista. Eu também sonhava com minha emancipação financeira, meta distante na época. Não me lembro porque razão ela teve que sair dali. Seu segundo apartamento, também alugado, foi o palco da festa de aniversário de seus 30 anos, acho. Conheci o Lula nessa festa. Muita comida, e o Lula tocando violão. Amigos de terapia misturados com amigos do seu (e do meu futuro) trabalho. Perdi contato com nossos amigos de terapia, mas continuei vendo a Mônika. Na rua de trás da minha casa, na rua Capitão Otávio Machado, na Chácara Santo Antonio, havia um restaurante por quilo. Nessa época eu era músico e trabalhava de noite. Gostava de almoçar lá. O rapaz que me atendia era o Marquinhos, na época namorado da Mônika. De vez em quando, caminhando para o restaurante, eu via a CB 400 amarela parada na porta e sabia que a Monika estava lá. Almoçávamos juntos. Soube que foram morar juntos quando dei com a Mônika na rua, algum tempo depois. Voltei a vê-la em 96, quando entrei na escola suíça. A lembrança principal desse ano foi o seu barrigão de grávida, que ia aumentando a cada mês, e sua expressão "escancarada" de felicidade. Era bom ter uma velha amiga como colega de trabalho numa escola nova e estranha para mim. Com o IB, em 98 fomos trabalhar juntos. Na sua separação, estive bem próximo a ela. Conversávamos. Lembrávamos de passagens e aprendizados da terapia. Apoiei a sua separação. Achava que o Marquinhos estava “pendurado” nela de um jeito muito cômodo. Seus trabalhos ocasionais não lhe rendiam dinheiro e ela era a “provedora- meio mãe” dele.
Em 98, minha vez de casar. Levei a Gis para conhecer a Monika. Conversando, as duas descobriram que os pais de ambas trabalharam juntos na mesma empresa lá pelos idos dos sessenta. Só que moravam em cidades há uma distância de 200 kilometros uma da outra!
"Putz, que mundo pequeno, meu!"2001, assumi o CAS, e passei a ser seu chefe. Posso dizer que a Monika não tinha medo de trabalho. Era extremamente dedicada. Como era perfeccionista, o desleixo dos outros a incomodava. E ela não escondia seu incomodo das pessoas. Podia defender com paixão seu ponto de vista. Muitas vezes discordamos sobre muitos assuntos. Quando seu ponto de vista era rejeitado por mim, acatava o encaminhamento pedido, dizendo: “Tá bom, se você quer assim”...
Em 2007 comemoramos 10 anos viajando juntos anualmente para Minas Gerais. Estivemos em todas as edições dessa viagem, eu e ela. Mudei para perto de sua casa em 2006. Passamos a ser vizinhos. Costumava às vezes ir, às vezes voltar de carona com ela, por causa de meu problema de saúde. Ela não me deixava andar até sua casa. Fazia questão de me pegar na porta. “Eu estou de carro, e você está a pé”, argumentava. Sempre ouvíamos um Cd do Caetano, que começava com a música “Tigresa”, a preferida da Camila. O CD player novo era a alegria do carro.
Gostava de comer pastel na feira de sábado, na rua Boa Vista, com a Camila. Reclamava dos alunos folgados da UNIBAN, que estacionavam na garagem da sua casa.
Generosidade era uma marca sua. "Em primeiro lugar, sempre os outros". Isso às vezes me incomodava e eu gritava: “Monika, pára! Pensa primeiro em você, poxa!” Ela não era uma prioridade para si mesmo. Na viagem deste ano, Monika comentou que estava com “caroços estranhos". Confrontei-a assustado. Contei para a Gis na volta e ela ficou “fula” da vida. Quando encontrou a Monika no supermercado deu uma bronca nela. “Precisa ir ao médico”! Ela tinha medo do que poderia encontrar: “E se tiver alguma coisa?” Pouco tempo depois, recebíamos a notícia: Metástase no pulmão e fígado. Todos nós, seus colegas, ficamos chocados e sem reação. Só a Gis ficou com mais “fula” ainda. Acho que é seu jeito de lidar com o que não dá para lidar. Quando Monika soube da doença, continuou a trabalhar. Seu medo passava quase imperceptível no convívio social. Percebia às vezes, pegando carona com ela, algumas reações de pura explosão de adrenalina com a Camila, sua filha. Medo. Perguntei: “Porque não pára de trabalhar?” ela disse: “Prefiro continuar. Ficar em casa me faz pensar em um monte de coisas que não quero pensar”. Monika era assim. Primeiro os outros, depois ela. No aniversário da Gis, em Maio, estava linda (foto acima) . Cabeleira loira cuidada. Normalmente, não cuidava muito do cabelo nem do visual. Não tinha muita vaidade. Nessa festa, comentando uma conversa comigo e com a Rose, uma médica amiga, sobre ir a médicos: “Vá ao médico. Isso pode fazer toda diferença. Se eu soubesse disso antes, teria ido ao médico antes e não estaria nessa situação que estou agora”. Em agosto, as conseqüências da quimioterapia começaram a ficar visíveis. Estava bem mais magra. Como se seu corpo estivesse murchando. Ao mesmo tempo, passou a se cuidar mais. A querer ficar bonita. Antes, eu a criticara por não se cuidar melhor, se arrumar. Ela tinha tanto potencial para ficar mais atraente, mas não conseguia ou não queria enxergar isso. Em outubro, piorou. Fomos visitá-la eu e a Gis. Estava em casa, e falava na sua volta ao trabalho. A sua animação não condizia com a realidade, isso era óbvio. Estava respirando com ajuda de aparelhos. Levamos um bolinho caseiro e refrigerante. Sua mãe estava visivelmente cansada e arrasada. Aproveitou nossa presença para dar uma descansada em sua casa, vizinha a da filha. Ficamos lá talvez duas horas. O ar dentro da casa era parado. Um pouco asfixiante. Monika estava angustiada porque seus amigos queriam vê-la, mas não podiam, pois ela não poderia correr o risco de se expor a infecções, bactérias, etc. Era isso que estava atrasando o tratamento principal, a Quimioterapia. Cada resfriado, recaída, significava que tinha que parar a Quimioterapia. E aí a doença avançava. Sugeri que filmássemos um depoimento seu, para eu levar aos seus amigos. Não se animou. "Não dá para me filmar desse jeito, né, com esse treco na boca !"Emprestou para a Gis um livro de culinária e era hora de ir embora. Sua mãe chegara com a rotina de medicamentos. Despedi da porta, com um sinal de positivo e votos de melhoras. Foi à última vez que a vi.


Monika sempre foi guerreira. Trabalhou até quando pode, um pouco por senso de dever, outro pouco por medo de parar e pensar em sua situação. Ela era de uma tribo, aliás, a minha tribo: Não suportava ver a feiúra do mundo. Se você agüenta ver a feiúra do mundo, pode cuidar tranqüilo da sua vida. Se não agüenta, tenta compensar criando arte. Monika criou belas obras de arte que pouca gente viu. Tive o privilégio de ver algumas obras em sua primeira casa. Tinha o sonho de fazer pós-graduação em arte-educação. Mas sua maior obra de arte foi sua filha, Camila. Monika nos deixou na quarta feira, 28 de novembro. Não sei se foi pelo fato de neste mês estar fazendo 20 anos que meu pai morreu, ou se por não esperar sua morte para agora, tão cedo. Senti e sinto essa perda com uma tristeza serena que mal disfarça meu desespero não expresso diante do mistério da vida.
Adeus , querida amiga. Sentirei saudades e guardarei as nossas lembranças. Quanto a nós, continuaremos mais um pouco por aqui, chutando a bola para frente, até chegar também a nossa hora, quando, espero, nos reencontraremos.

7 comentários:

Meire Marion disse...

Hi André,
I have just read this beautiful text in Monika's honor. It was a lovely idea and I thank you for writing it!
bj
Meire

Meire Marion disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Andre Barreto disse...

Wasn´t she beautiful? Look at her picture!

larica disse...

Emocionante depoimento. Devo confessar que me emocionei bastante ao ler esse seu "epitáfio", honrando alguém que você gostava, que você cuidava e principalmente, fazia parte da sua história.

Eu não a conheci o suficiente, mas sei que ela era um importante brilho na vida de todos nessa escola. E que sem ela, sentiremos um pequeno ponto escuro na nossa mente a cada vez que entraremos na sala de arte.

Qualquer perda é dolorosa, mas eu penso que essa nova etapa, é um passo a diante na nossa transcendência espiritual.

Meus pêsames, e a sinceridade das suas palavras e seus pensamentos, com certeza, devem agradá-la, em qualquer seja o lugar que ela esteja.

Andre Barreto disse...

Obrigado pelas palavras, Júlio. Sei que tem um cara bem sensível aí dentro, escondido por trás do cara meio louco.
Grande Abraço.

Anônimo disse...

Oi André,

Fiquei realmente emocionada com sua homenagem!
Você tem toda razão ao comentar que ela sempre pensava nos outros em primeiro lugar. Em valorizar a qualidade de todo o seu trabalho como professora, tutora, orientadora e outros mais...
E principalmente sua amizade serena e tranquila, sempre com uma palavra perfeita para amenizar os ânimos estressados!
Mais uma vez fico muito satisfeita e agradecida por você e a Monika fazerem parte da minha vida. Com certeza são personalidades que ajudam a me tormar uma pessoa melhor.
bjão pro ce e um pra Monika onde estiver!

Anônimo disse...

Querida Adriana. Faço votos de melhoras para você. Desejo uma rápida recuperação. Um ótimo 2008 com muita saúde para você.
Bjs.