Publicado
na revista Sabiá, de novembro de 2013, sob o título "Uma
Abordagem Criativa". O artigo ficou muito bonito na revista,
ilustrado com fotos e em página dupla. Infelizmente por falta de
espaço fomos obrigados a cortar dois parágrafos. Segue texto
original abaixo.
Uma Abordagem Criativa
A
lei federal 11.769 obriga todas as escolas do país a oferecer cursos
de música. Esta é uma lei nova, de 2008. Não é a imposição
legal que faz da Escola Suíça uma das que mais investe no
aprendizado desta disciplina no Brasil. Nossa escola antecipou – se
em décadas à percepção dos políticos.
A “ficha” da
educação musical caiu há muitos anos por lá e cai agora
finalmente por aqui: estudar música traz múltiplos benefícios à
criança em idade escolar. Porque é assim? O que a música, essa
miscelânea (às vezes confusa) de sons tem para oferecer afinal?
Para rastrear tais razões precisaremos ir além da superfície dos
fatos.
Anne Bamford, diretora
do Engine Room project da University of the Arts of London tem
dedicado sua carreira a examinar o impacto das artes na sociedade e à
função da criatividade na educação. Ela explica que a
neuroplasticidade do cérebro de toda criança tem capacidade
ilimitada de formar novas conexões e redes. Isso significa que,
ainda pequenos, todos nós temos um ilimitado potencial para pensar
lateralmente.
O tipo de experiência
a que a criança será exposta, principalmente na escola, é que
ampliará ou reduzirá tal potencial. Isto, segundo a pesquisadora,
não tem muita relação com o pensar acadêmico.
“Se
a criança não encontra um contexto para expressar sua necessidade
artística ou criativa, ilustra Bamford, ela vai achar formas
distorcidas de fazê -lo, através de comportamentos inadequados e de
indisciplina."
O ensino de música com
uma abordagem criativa aumenta a felicidade, torna o aprendizado
divertido, ensina as crianças a lidarem com o inesperado. A ênfase
no universo sonoro e estético convida à percepção mais apurada de
si mesmo e por consequência do outro. São introduzidos parâmetros
para avaliar o Belo. Pensar sobre a percepção integra hemisférios
esquerdo e direito do cérebro, desvela o mundo subjetivo, a
realidade interior, a inteligência emocional.
Tocar em grupo requer
silêncio, disciplina e concentração. Não se faz nada com
qualidade sem esses quesitos. Chamamos atenção para o prazer de se
escutar o silêncio. Silêncio. A tela branca sobre a qual os acordes
serão pincelados. Parece fácil ao dizer mas sabemos que não não o
é. O silêncio, a disciplina e a concentração são ideais buscados
em cada próximo minuto de convivência.
Mas há o outro lado. A
liberdade de ousar, de pular no caldeirão criativo; viver a
experiência do entusiasmo. É preciso aprender a lidar com uma
pitada de caos, onde as novas ideias são geradas. O caldo criativo
necessita liberdade de expressão e enorme tolerância ao erro. Quem
não sabe errar não sabe criar (também conhecido como quem não
arrisca não petisca).
Traçando um rápido
perfil do ensino musical na escola, o ponto de partida foi, como era
de se esperar, a integração das abordagens pedagógicas suíça e
brasileira. Oferecemos a vivência e o ambiente de aprendizado, em
contraponto ao trabalho acadêmico das demais disciplinas. Damos
ênfase à socialização e à valoração das diferenças, dos
talentos individuais. Nosso jeito de trabalhar, de organizar o
mobiliário e de avaliar é um pouco diferente. Somos atentos à
comunicação não verbal, aos altos e baixos. Trabalhamos com um
aparelho chamado “autoestimômetro”. Buscamos de um lado a
inclusão do aluno com dificuldade de aprendizado e de outro a
excelência do resultado sonoro. Seguimos o caminho, equilibrando-nos
sobre esta linha de aparente paradoxo.
Os alunos iniciam a
jornada pequeninos no ensino fundamental, com noções de
musicalização e com os primeiros contatos com um instrumento: a
flauta. A experiência com o instrumento se expande no fundamental
dois, com quatro novos cursos. Bateria, teclado, violão e flauta
transversal. A teoria é trabalhada em uma aula específica. As
crianças aprendem a enxergar a música como uma língua que expressa
sentimentos. Crescem mais integrados; mais cientes de si mesmo (e
portanto, mais cientes do outro). Com o ensino médio vem o
amadurecimento da vida musical, uma maior especialização e busca
por excelência. Colhem - se os frutos plantados ao longo dos anos.
Há muito pouco tempo
atividades como Música e Trabalho Acadêmico eram vistos como
mutuamente excludentes. Hoje temos farta evidência da correlação
entre o pensamento criativo e o desempenho excelente em línguas,
matemática e ciências. Precisamos aprender a ver a música não
mais como lazer ou passatempo, mas como recurso econômico; atividade
que multiplica inteligências, e agrega valor. O mundo hoje é
parecido com a sonata número um em Fá menor de Beethoven. Deve ser
tocado em tempo prestissimo. E quem não aprender a tocá -lo vai
ficar para trás.
Bibliografia.
IB World magazine:
Article - Creativity: It’s not what you know...
http://www.ibo.org/ibworld/may2011/leadfeaturecreativity.cfm
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