Manter um Blog na Internet é um tanto trabalhoso. Vou tentar contar como cheguei aqui, a um passo de completar cinco anos online, e também a um passo da centésima postagem. Considero aberta a temporada de auto - homenagens. Para chegar comigo ao fim não esqueça de levar na mochila paciência e curiosidade. Revisitarei minha trajetória para entender porque insisto em investir num produto que não dá retorno, seja dinheiro ou audiência. Esta coisa vem de longe e se delineou aos poucos. Antes de ser a história deste Blog, é a história de uma busca. Vou plantar pistas no ar para colher no fim da linha. Acompanha -me.
Trago da tenra infância a descrença com o mundo adulto. Sempre o achei absurdo e um pouco irreal. Lembro -me bem pequeno ouvindo meus pais discutindo no quarto, eu assistindo televisão e pensando: Meu Deus, essas pessoas não podem estar falando sério! Desconfiava ou fantasiava que quando fizesse dez anos de idade todas as pessoas que eu conhecia iam me chamar para me revelar que tudo ao meu redor era uma grande encenação! Aquilo não era A realidade Tudo na minha vida, a escola, meus pais, a pretensa seriedade dos adultos , era tudo um grande fingimento. Fariam todos uma fila para me abraçar e me dizer: Agora que você é um dos nossos e já sabe de tudo terá que fingir também quando na presença de crianças com menos de dez anos. Enquanto nós, os mais velhos conhecedores da verdade piscaremos uns para os outros discretamente em cumplicidade. Esperei por muitos anos e nada do encontro. Os adultos da família se reuniram e me chamaram anos depois, mas para contar que Papai havia morrido. E que dali em diante seria obrigado a encarar A realidade.
Os anos eram os setenta e passávamos os Natais em Niterói - RJ, na casa de meus avós. Havia bastante gente, mas gostava mesmo era dos meus tios hippies: O Joãozinho (Bird) e a Martinha. A Martinha era astróloga e trabalhava na Globo. Mas o que ela gostava mesmo era de estudar e discutir ufologia e esoterismo. Aquele sim era um mundo interessante. Varávamos fácil a noite no seu quarto, eu, meus irmãos e a primarada, debruçados sobre o seu beliche, sob o mosquiteiro, ouvindo histórias sobre sociedades secretas, conspirações, segredos sobre discos voadores e sua relação com dinastias perdidas do Egito.
Com onze anos comecei a frequentar o acampamento de férias durante o mês de julho com meus irmãos. Aos quinze anos trabalhei pela primeira vez como monitor. Naquele ano conheci um casal de monitores com quem gostava de conversar sobre filosofia e esoterismo. Ele se chamava Caio e ela Soninha. Eu acabara de ler o livro Ilusões do Richard Bach e questionava meus amigos sobre as tais ilusões de que o livro tratava. De quais ilusões ele está falando? perguntava intrigado. Tudo neste mundo são ilusões, insistia o livro. Aquela afirmação misteriosa me seduzia. O Caio sorriu, pegou um guardanapo, escreveu o nome de três livros e sugeriu que eu os lesse pela ordem. Lembro -me do primeiro da lista: Uma estranha realidade, do autor Carlos Castaneda.
Voltaria a encontrar o Caio e Soninha uma única vez, dois anos depois. Numa noite de gala, que mudaria minha vida para sempre. Em junho de 1983 foi realizada a primeira Mostra Cultural do Colégio Pueri Domus, onde eu estudava. Surpreendi a todos os presentes ao tocar uma música não anunciada: A canção que fiz em homenagem ao meu amigo, morto de parada cardíaca há poucos meses numa overdose com lança perfume. Fui completamente ovacionado pela multidão que se aglomerava na capelinha onde acontecia o evento. Ninguém esperava nada do gênero. Parece que tive êxito ao colocar em palavras o sentimento mudo de muitos ali presentes Pouco antes de subir ao palco recebi um bilhete rabiscado à mão que vinha do fundo da platéia. Lia - se: Estamos aqui atrás. Assinado: Caio e Soninha. Não cheguei a vê -los. Eles devem ter tentado se aproximar, mas eu fui engolfado pela multidão e pela onipotência que o sucesso sucita. Tentei encontrá -los várias vezes durante esses anos mas não sabia seus sobrenomes. Nunca mais os vi nem tive notícias.
A busca pelo esotérico começou antes que a busca pela música, mas de muitas formas elas se cruzaram através dos anos. A primeira prometia poder e aventura. A segunda ocupou a lacuna criada pelo meu desajuste social e pela minha enorme carência oral- afetiva. Escolher a profissão de músico foi a promessa de um sucesso com o sexo oposto que jamais sonhara encontrar nem com o futebol nem com as piadinhas, minhas bengalas sociais de então. Quando finalmente experimentei algum sucesso advindo da música, nada foi muito satisfatório, pois o agrado não era para mim, mas para a minha mitologia pessoal. Melhor descobrir tarde que descobrir nunca. Mas aquele guardanapo rabiscado pelo Caio e pela Soninha com a lista de livros, aquele mudou minha vida para valer. Mais do que ter virado celebridade por uma noite, quando decidí em um estalo que eu me tornaria um músico profissional.
2 comentários:
Não vai demorar para publicar o próximo capítulo hein!
Estou no aguardo, rsrs
grande abraço
Hahaha, vou tentar! Valeu por aparecer aqui de vez em quando! Abs
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