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sexta-feira, 6 de junho de 2014

Samurai

Ganhei de presente o CD do meu parceiro guitarrista Alexandre Murashima. Suas composições são cheias de vigor e brasilidade jazzistica. Sua palhetada agressiva adora contrariar expectativas melódicas. Os solos são corajosos e intensos. As notas apertam-se no chorus, em tom de urgência. Suas melodias são circulares, impregnadas de anseios desconhecidos. Sua palhetada é cavada, oitavada, rasqueada. A guitarra, uma lâmina generosa. As frases (em especial as notas finais) evitam o percurso mais fácil. A atmosfera de sons celebra a liberdade, a rebeldia, a ironia, a amizade. E traz a assinatura inconfundível do Samurai; deste País longíncuo chamado Alexandre Murashima.


Faixa a faixa: 

1.Olho no Olho – Tema está no saxofone, muito bem executado. Testemunhamos as frases de repetição, as modulações harmônicas. A melodia sinuosa, tão características do trabalho composicional do Alexandre. O clima e as paisagens são tropicais e sensuais. Ouço um fragmento de melodia japonesa no meio do improviso da guitarra, e fraseados de blues e arpejos de palheta. Os finais de frases buscam o improvável, o inesperado. 

2. Coloca Mais Suspiro no Merengue que a Galera Tá Chegando – O nome dessa música é sensacional! Bolerão com uma melodia errática e circular, que evolui para terminar num tcha tcha tcha tcha forte no agudo. Os improvisos, estruturados estilo pergunta - resposta. Solos bastante criativos, com uma avalanche de idéias melódicas se sobrepondo e se articulando com a harmonia. 

3. Quatro Patas – Introdução  gentil e delicada, numa atmosfera de tom menor. Segue - se uma segunda introdução (Arpejo de Lá maior aberto com nona; reconheço o som desse acorde. Já usei bastante também). Clima modal. Melodia ala George Benson, com finais de frases inesperados, em estrutura de pergunta e resposta. Muitas idéias desfilam. Delicadeza e ímpeto se revezam e se equilibram. 

4. Vo Kakô: Introdução sensual, contemplativa. O timbre da guitarra ganha nos graves (arpejada com a mão?) . Como uma meditação. Idéias melódicas circulares. O improviso da guitarra quebra o transe com muito suingue. A palheta é quase percussiva. O solo explora os graves e é carregado em intensidade emocional. 

5. Filosofando Baixo – A composição, uma das minhas preferidas, é muito bem resolvida e executada. Meio Afro - Samba, Ala Baden, só que em tom maior. Delicada, simples e generosa. Introdução com clichê harmônico I IIm IIIm IV. Entra o tema no contrabaixo  sobre a sequência modal, acompanhada ao violão. A guitarra fica no estojo nessa. O clima é matinal, praieiro, otimista. A Parte B é Jobiniana. Me remete à Parte B de Wave. O improviso do Baixo é diatônico, ascendente, de graus conjuntos. O coral no Coda, Ala A Love Supreme.

6. Sambanana – O tema de novo no Saxofone. Melodia é muito forte e bem resolvida. Um Murashima clássico, com modulações e transições em busca do equilíbrio entre a apresentação de fragmentos novos e estabilidade/memória melódica. Transporta - nos dessa maneira para várias paisagens. A melodia é otimista, assertiva. Uma transição apresenta um pequeno solo de bateria. O improviso do saxofone está bastante encaixado, em estilo sincopado, que lembra o estilo de tocar guitarra do Murashima.

7. Pret a Pate no Atelie – Já tratei  dela neste link: Participei da gravação com o violão estilo bossa nova que toca no fundo. O tema explora as dinâmicas para ganhar intensidade e lirismo. O solo apresenta muitas idéias, em sequência. A parte B segue uma trajetória melódica inesperada, fugindo do tom mais melancólico da parte A. No B, a linha melódica da resposta segue para o agudo, direção oposta à esperada. Suas melodias recorrem com frequência à este recurso.

8. A Primeira Valsa da Manu – Valsa-Blues, cheia de temas circulares, escadas cromáticas, ataques de palheta, frases oitavadas e saltos intervalares. Contrastes entre frases velozes e meditativas. Nuances de Blues.

9. Em Breve!!! - Das minhas preferidas. Sambão com tema no Bandolim. Temas com notas repetidas e melodias circulares. A melodia deu muito certo e representa o estilo Murashima no seu melhor. Improviso muito inspirado do Bamdolim, com notas repetidas, graus conjuntos e bom uso dos graves. Improviso da guitarra e do baixo também funcionam e não deixam a peteca cair. Nesta faixa estão, na minha opinião, os melhores solos do disco. Muito suingue. No solo de Baixo, cai a dinâmica e muda o clima. Fica mais intimista, com algumas notas do improviso batendo na trave. A ponte para voltar ao tema apresenta uma sequência de breques sensacionais. A Banda toda cresce no tema-Coda, para terminar repentinamente com potência máxima.

10 – As Pequenas Coisas – Acompanhada ao Violão. Me remete à uma Bossa Nova do Ulisses Rocha. Clima modal Jonico (I9 – IV9). De novo extravasa uma sensualidade não intencional, meio em repouso. A guitarra contrasta com o dedilhado tranquilo do violão, adicionando sincopa e uma agressividade correta. Vez por outra o ímpeto da guitarra cede e embarca no lirismo dos arpejos do violão.  

Para comprar o disco, acesse o Facebook e entre em contato com o Alexandre. Para vídeos, acesse seu canal do Youtube.

3 comentários:

Meire Marion disse...

Bravo!
Adoro a numero 2 "Suspirro".
Esse CD está tocando direto no meu carro e nesses dias de transito caotico é uma beleza.

Parabéns pelo texto André! :)

Andre Barreto disse...

Obrigado pelo comentário Meire!
O CD também está tocando direto "no meu carro" rsrs. Bjs

Jefferson Garrido disse...

Pô, fiquei com muita vontade de ouvir!