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sábado, 1 de abril de 2017

Passeio

Em 1998, já com um ano de namoro, mostrei para a Gis uma melodia que estava tentando compor ao violão. Queria saber o que ela achava, se lhe agradava aquele som. Sincera, ela me disse que não tinha gostado muito. Só confessei muito tempo depois que aquela canção seria dedicada a ela. 
Acabei nunca compondo uma música para a Gis, mas sempre fiz música para as pessoas do meu entorno. Desde o início foi assim. Compus para minha mãe, para minha irmã, para ex - namoradas. Tentar compor é a atividade musical que mais me diverte: tentar criar uma letra que combine com uma melodia de um jeito interessante e original. 
Resolvi juntar 20 das minhas melhores músicas num único vídeo, para poder ouvir tudo de uma tacada só. Como um passeio pelas últimas décadas do meu amadurecimento pessoal, desfilam neste vídeo sonoridades variadas que refletem diferentes momentos da minha vida, e também algumas antigas parcerias queridas. O resultado você confere aqui.




Olhando mais de perto para estas gravações, detecto alguns contextos em que estas canções foram gravadas: 

- Gravações edílicas de 1984, com patrocínio e a parceria da CNBB, Denise Mello, PC Bernardes, Esteban Paschoal, Fábio Amaral e outros.

- Gravações raivosas de 1987, logo após uma viagem sabática de um ano pelo Brasil. A tal fitinha com as quatro músicas foi divulgada pelos meus amigos de Ouro Preto e ficou famosa nas festas do baixo Gávea e Botafogo, no Rio, em 1988. Lembro - me de me assustar ao chegar a uma festa no Rio e perceber a repercussão que aquelas músicas geraram. Foi a minha única experiência de tocar minhas músicas e de ser acompanhado por uma legião de desconhecidos cantando as letras de cor.

- Gravações para um show em 1989 no teatro Domus. Nova banda, novos parceiros. Estas gravações foram feitas para a banda conhecer o repertório, em casa, com um pequeno gravador portátil.

- Gravações de 1994, para registro, logo antes de me mudar de São Paulo para ir morar numa comunidade alternativa em Nazare Paulista. Feita com gravador portátil. Dá para ouvir quando eu interrompo a gravação para atender o telefone, que tocou bem na hora.

Ao ouvir novamente já com a distância dos anos, chama minha atenção como minha obra autoral não está ancorada em nenhuma tradição da MPB. Sou fruto de uma cultura desenraizada, pré-globalizacao pré-internet, em que a produção cultural de outros lugares teria me influenciado mais do que a cultura nacional. Desta seleção, diria que apenas Um canto para Lú e o Baião possuem referências relevantes de música brasileira. E talvez uma pitada de Clube da esquina nas canções Nascer e Indiozinho. Mas é só.

Vale menção especial a parceria com minha querida prima Eliane Iglesias, letrista, autora de teatro e compositora. A letra e melodia de Gente como a gente é dela. Ela cantou no gravador portátil e encaminhou aos meus cuidados. Coloquei a harmonia, o arranjo e fomos gravar com a Gis também nos vocais. Só comigo é letra dela, sobre o fim de casamento e a busca de uma nova identidade feminina, para além do papel de esposa. Adaptei um pouco a letra para funcionar na minha melodia

Também chamou minha atenção meu gosto pelo tempo ternário: A terra é nossa, tentativa frustrada, Dri Song, Indiozinho. Todas variantes de valsas. E o uso dos intervalos simples de sexta na estrutura dos temas de Um canto para LuSchweizerschule. A primeira descendente, a segunda ascendente. O modalismo lídio (C- D- C- D) de A terra é nossa (no refrão), idêntico ao tema inicial de Schweizerschule.

Algumas canções tem aspectos bastante experimentais, como a "não-forma" de S Song e os crescendos em Grande Azul e PétalasAlgumas tiveram inspiração em outras músicas e artistas: Dri Song é inspirada  em "As minhas meninas", de Chico Buarque. Song to A é inspirada em "Philadelphia Freedom", do Elton John, e em James Taylor. Palavras Proibidas é inspirada e cita "Tempo Perdido", da Legião Urbana. Schweizerschule - Abertura é inspirada em "Blackbird" dos Beatles. A série "Schweizerschule" foi criada em homenagem aos 40 anos da Escola Suíça e apresentada no final de 2006, com uma banda de professores, alunos e pais. A gravação foi patrocinada pela direção da escola.

Nunca ganhei dinheiro compondo música. Nunca precisei, graças à Deus. Componho por prazer e para me expressar. Música é como uma língua, um idioma, à nossa disposição, à espera de uma fagulha criativa de nossa parte. Já escrevi sobre isso inúmeras vezes neste Blog, e nunca canso de repetir isso aos meus alunos.

2 comentários:

Betão Star Trips disse...

Texto instigante... Vou conferir as músicas... Abraço. Alberto.

Andre Barreto disse...

Bacana Alberto! Espero que goste hahaha. Tem algumas com uma pegada mais"de Rock". Obrigado pela visita! Abraço