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sábado, 25 de outubro de 2008

Quatruidade

A vida é engraçada. Segue nos pregando peças. Seguimos por ela aos trancos e barrancos, o melhor que podemos. Somos cidadãos, consumidores, profissionais, pais, companheiros, colegas, tudo ao mesmo tempo. Às vezes vamos bem. Às vezes, bem... Falar em ter sucesso na vida é falar em adquirir habilidades para executar tarefas - chave como essas acima. Essa visão muito difundida foi questionada num livro notável. O autor argumenta que o sucesso tem menos haver com adquirir habilidades, e mais haver com o seu funcionamento mental. Tem menos haver com competências, e mais haver com patamares de consciência.
O professor Robert Kegan, do departamento de desenvolvimento adulto de Harvard ensina: Para alcançar sucesso adulto preciso não tanto de competência, mas de uma eficaz reconstrução cognitiva. Reaprendizado constante. De novo e de novo, ver e reestruturar o entendimento do que é visto. Ir aos poucos complicando.
O senso comum diz que crescemos só até o final da adolescência. Não é assim. O corpo pára de crescer. A mente não. Quem não viu o velho Joseph Campbell entrevistado em O poder do Mito
http://www.youtube.com/watch?v=4C3TdbpZWl0


desfilando uma exuberância intelectual matadora ? Ali dá para ver até onde uma mente pode chegar. Podemos ser como ele, se não abdicarmos de nossos potenciais.
As pessoas de um modo geral têm preguiça de pensar. A maioria das pessoas que conheço busca a vida intelectual para subir na vida: Um título acadêmico significa um salário melhor. A busca pela vida intelectual deveria ser movida pela paixão!Temos bode de quem pensa. “Quem ele pensa que é, o arrogante”? Pensamos quase sem querer ao testemunhar os pensantes. Cultuamos agressivamente o corpo e desprezamos ferozmente a mente. Tudo que vem dela nivelamos por baixo . E não só aqui no Brasil, como mostra a obra aqui citada.
O livro The evolving self é o primeiro do professor. Integra Piaget com a neo-psicanálise de relações de objeto. Cada nível de desenvolvimento descrito está relacionado com um nível de Piaget e com a capacidade de fazer objeto uma estrutura psicológica que anteriormente era sujeito (o invisível que fica visível).
A depressão é vista não como uma patologia a ser tratada a base de tranqüilizantes, mas como uma agrura inevitável na reconstrução da nossa visão de mundo. A depressão é uma transição. Exemplo: Quando descubro que a vida lá fora não respeita meus desejos, entro em depressão (normalmente na infância). É uma depressão boa, é crescimento. Tem muito nó cego com mais de trinta que ainda acha que pode mandar na vida. “Se fizer mais força...”Vai tentando que eu volto amanhã.
A idéia de estágios de consciência encontrou muita resistência na época da publicação, por causa do ambiente pluralista – relativista da academia. Hoje no primeiro mundo essa má vontade está passando, graças a Deus. A clareza de Kegan espanta, e lança olhar novo (cognitivo) sobre problemas comuns em psicoterapia. O livro apresenta cinco estágios estáveis de consciência, com um estágio a mais que o formal operacional de Piaget: O estágio complexo-dialético.No estágio um a criança é seus impulsos e percepções (Sujeito). Kegan o chama de eu impulsivo. Seu objeto de percepção são seus reflexos (sentidos, movimentos). Está no estágio Pré-operacional de Piaget. No estágio dois (eu imperial) a criança se define por seus desejos, necessidades, interesses (Sujeito). Seu novo objeto de percepção e ação, antes sujeito, é internalizado (impulsos e percepções). Sua cognição (Piaget) é o concreto – operacional. O estágio três ( eu interpessoal) o adolescente reconhece que não e o único que possui desejos, interesses e necessidades. Existe o outro, igualmente portador de subjetividade. O adolescente em desenvolvimento objetifica seus desejos e os negocia em suas relações. O relacionamento passa a ser a instância onde a pessoa se define (O novo Sujeito). Cognitivamente é formal operacional inicial.No próximo a relação é relativizada e objetificada, e o eu (novo sujeito) passa a se definir por uma ideologia interna ou idéia de como as coisas devem ser. As relações se submetem ao novo eu, autônomo e auto-responsável. É o nível quatro, o eu institucional. Assim chamado porque precisamos dele para funcionar bem nas instituições humanas. Família (filhos), carreira (empresa), casamento (parceiro), faculdade (pós – graduação), psicoterapia. Funções adultas. O nível seguinte, o nível cinco, fica de fora por enquanto.
Até poucas décadas bastava para todo mundo alcançar o estagio três. Mas o mundo se complicou. Sua análise é clara: Hoje, para darmos certo, precisamos do estágio quatro. O problema é que a maioria de nós ainda está no estágio dois, graças à porcaria da nossa educação. Somado ao estímulo cultural e político para deixar as coisas assim. Por isso o caos.
Achar um nível quatro puro é difícil. A maioria dos quatro estão no meio do caminho vindos do três. Se você o encontrar ele vai se esconder. Se assumisse sua quatruidade seria discriminado, acusado, abusado, rechaçado, não compreendido, odiado. Porque alguém do quatro não se define pelo grupo a que pertence. Ele não é “mano”. Regula sua relação com você no papel social que está agora. Pensa por si mesmo. Possui dois tesouros muito raros: Autonomia e auto-responsabilidade. O que você pensa dele não importa tanto quanto o que ele pensa dele. Os nível - quatro brasileiros são peixes fora d’água.Por isso, esqueça tudo isso e vá para a academia. Não, para a universidade não. Vá para a musculação!
Com um corpão você fazer sucesso no país do culto ao prazer. Pensar só vai te trazer problemas por estas bandas.
Acesse um resumo de The Evolving Self, primeiro livro de Kegan, ainda sem tradução para o português
http://bcpandrebcp.blogspot.com/2008/09/introduo-de-evolving-self.html


Abraços.





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