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Minha atividade atual como compositor se resume a escrever arranjos musicais para meus alunos tocarem. Mas nem sempre a coisa foi assim. Houve um tempo em que alimentava o sonho de ser compositor popular. Listava minhas composições. Olhava para elas com orgulho.
A composição de canções foi o estimulo necessário para meu inicio com o violão, ainda em 1982. Inventava um novo dedilhado, e o usava numa música nova.
Assim foram os primeiros meses até a semana cultural do Pueri Domus, em abril de 83. Resolvi fazer uma surpresa. No ensaio geral, apresentei um repertorio, mas na hora H do show resolvi tocar uma música que tinha feito para um amigo da minha classe, falecido há pouco. As palavras da canção tocaram o inconsciente coletivo de toda escola e o destino quis que minha primeira experiência no palco fosse um sucesso retumbante. Essa sorte de principiante me fez optar prematuramente pela carreira de música, decisão que viria a acirrar o conflito em casa com meus pais, mas esta é uma história para outro dia. Hoje tenho consciência de que meu talento é limitado(Não me considero especialmente talentoso em nada, e parece que tenho facilidade para fazer muitas coisas mais ou menos bem). Quando ficava deprimido por ainda não ser reconhecido na rua, minha frágil auto-estima sempre podia contar com mamãe: “Toca a música da bomba atômica”... (Canção gigante que descrevia com detalhes um holocausto nuclear, e tinha um clímax final que, quando a bomba caía, o protagonista gritava: “Não quero morrer”, e o narrador da história respondia “Não há mais solução” – era patético, mas eu achava bom!). Esforçava-me para ser “mau”; Para ser respeitado pelos amigos. Quando me apaixonei virei um cachorrinho bobo. Depois vieram as frustrações e dificuldades do inicio da vida adulta. Isto se manifestava nas minhas composições como ironia e niilismo. Estava sem perspectiva de futuro, perdido, e não sabia o que dizer nas canções. Fazia escatologia. Na fase seguinte, a agressão propriamente dita transbordou junto com a minha crise de identidade. E por aí a vida seguiu, fase após fase, e com elas as músicas... Penso no narcisismo de postar minhas músicas, por um lado, mas penso também que se não mostrar essas músicas aqui e agora, vou mostrar aonde e quando? Vou tirar delas a oportunidade de serem ao menos divulgadas? Não, isto seria estupidez. Então lhes ofereço um espaço público para lançá-las à própria sorte.
Fase a fase:
1. “A terra é nossa”. 1984. Fase Bucólico-Ingênua: Inspirada na teologia da libertação, a letra dessa canção fala da terra e do pão sagrados (“A terra é nossa, a terra é do povo, é para plantar e semear um mundo novo”). Um “mundo novo” querendo frear o progresso e criticando a tecnologia. Nada de novo. A solução para a fome? Fazer a comunhão entre os homens e praticar o amor. Simples, não? O disco também traz em outra faixa a participação de Lula Barbosa e Miriam Mirah, do extinto grupo “Tarankón”. Minha parceria com a amiga Denise Melo, esta sim ótima cantora, durou todo o ano de 1984, e rendeu algumas participações em festivais de compositores. Fomos finalistas no festival do Clube Ipê daquele ano e foi só. Gravada no disco “Direito de Chão”, da gravadora “Verbo Filmes”. Letra do produtor Luiz Walter de Souza. Musica: Andre Barreto. Arranjo: PC Bernardes. Performance: Andre Barreto e Denise Melo.
2. “Palavras Proibidas”. 1987. Fase “Punk-Socialista”. Abandonei a faculdade de publicidade por três anos, decidido a encontrar o meu caminho longe dali. Viajei por várias cidades brasileiras. Em Ouro Preto me envolvi com política estudantil e conheci a literatura socialista, a cartilha de Marx, Engels e companhia limitada. Filiei-me ao PT, participei de greves gerais de 1º de Maio. Compus naquele ano uma série de quatro músicas. São como um grito angustiado. A letra de “Palavras proibidas” saiu de um golpe, coisa que nunca tinha me acontecido. Exige uma revolução socialista urgente, para aplacar o sofrimento de um povo que eu estava começando a conhecer de perto (e também tentar aplacar a minha própria dor por estar completamente perdido àquela altura). A influência da banda Legião Urbana é assumida no contracanto do refrão: “Não temos tempo a perder”, (citação de “Tempo perdido” - Para mim, ainda a melhor canção do rock brasileiro). A letra fala da arrogância dos “velhos que têm preguiça de pensar”, expondo a minha própria arrogância juvenil. A "velhice" é associada à mídia manipuladora e à alienação. O mundo futuro será "tomado" de suas mãos, num levante popular liderado pelo refrão: "Vamos pegar o que é nosso"! A minha questão filosófica pessoal colocada àquela altura é explicitada na frase: “Será que eu vou ter que morrer por pensar em você por você?” A minha angústia é exposta no grito: “Vâmo lá, pôrra!” Foi gravada numa tarde de setembro de 1987, nos estúdios da“Verbo Filmes”. Letra, música, arranjos, performance : Andre Barreto.
3. “Tentativa Frustrada”. 1993. Fase em que oferecia minhas composições a pessoas queridas. Desiludido com a carreira musical, e sem vontade de compor mais nada que tentasse salvar o mundo, resolvi cuidar da minha vida e das pessoas que amava. Dava músicas como presentes de aniversário. Irmã, mãe, namorada, etc.. Fiz esta para mamãe, após uma fase difícil do nosso relacionamento, alguns anos após a morte do papai. A agressividade da fase anterior evidentemente está mais atenuada nessa canção, e um lirismo nostálgico emerge das profundezas. Marcou o início de um período de separação. Há um rápido solo de gaita, antes da repetição parcial da segunda estrofe. Naquele período, eu era “Crooner” da noite de São Paulo, e meu estilo preferido era a música “Folk” acompanhada por gaita e violão, “alá” Bob Dylan e Neil Young. Essa gravação quase foi perdida para sempre por um descuido meu, que gravei sem querer por cima da fita cassete (Outras gravações estão perdidas para sempre). Letra, música, arranjos e performance: Andre Barreto.
4. “Gente como a gente”. 1999. Fase de parceria com Eliane Iglesias. Marca meu interesse maior por arranjos e por música instrumental. Estava cursando o curso de bacharelado em música. A Eliane Iglesias, minha prima, estava atuando como escritora e produtora teatral, com talento para comédias. A peça contava a história de um programa de rádio noturno que entretia pessoas solitárias, e a relação engraçada que se seguiu entre o locutor e uma ouvinte. Tentei dar um sabor jazzístico para a canção da Eliane, que me entregou um mini cassete com gravação caseira, à capela. Harmonizei, arranjei e gravamos num estúdio em Santana, zona norte de São Paulo. A música foi tema da peça de mesmo nome, em cartaz no teatro Procópio Ferreira, Com Leão Lobo e Roberta “Close” no elenco principal. Composição de Eliane Iglesias. Harmonia, Arranjo e performance : Andre Barreto. Gislaine Ribeiro nos vocais.
Abraços.
Assim foram os primeiros meses até a semana cultural do Pueri Domus, em abril de 83. Resolvi fazer uma surpresa. No ensaio geral, apresentei um repertorio, mas na hora H do show resolvi tocar uma música que tinha feito para um amigo da minha classe, falecido há pouco. As palavras da canção tocaram o inconsciente coletivo de toda escola e o destino quis que minha primeira experiência no palco fosse um sucesso retumbante. Essa sorte de principiante me fez optar prematuramente pela carreira de música, decisão que viria a acirrar o conflito em casa com meus pais, mas esta é uma história para outro dia. Hoje tenho consciência de que meu talento é limitado(Não me considero especialmente talentoso em nada, e parece que tenho facilidade para fazer muitas coisas mais ou menos bem). Quando ficava deprimido por ainda não ser reconhecido na rua, minha frágil auto-estima sempre podia contar com mamãe: “Toca a música da bomba atômica”... (Canção gigante que descrevia com detalhes um holocausto nuclear, e tinha um clímax final que, quando a bomba caía, o protagonista gritava: “Não quero morrer”, e o narrador da história respondia “Não há mais solução” – era patético, mas eu achava bom!). Esforçava-me para ser “mau”; Para ser respeitado pelos amigos. Quando me apaixonei virei um cachorrinho bobo. Depois vieram as frustrações e dificuldades do inicio da vida adulta. Isto se manifestava nas minhas composições como ironia e niilismo. Estava sem perspectiva de futuro, perdido, e não sabia o que dizer nas canções. Fazia escatologia. Na fase seguinte, a agressão propriamente dita transbordou junto com a minha crise de identidade. E por aí a vida seguiu, fase após fase, e com elas as músicas... Penso no narcisismo de postar minhas músicas, por um lado, mas penso também que se não mostrar essas músicas aqui e agora, vou mostrar aonde e quando? Vou tirar delas a oportunidade de serem ao menos divulgadas? Não, isto seria estupidez. Então lhes ofereço um espaço público para lançá-las à própria sorte.
Fase a fase:
1. “A terra é nossa”. 1984. Fase Bucólico-Ingênua: Inspirada na teologia da libertação, a letra dessa canção fala da terra e do pão sagrados (“A terra é nossa, a terra é do povo, é para plantar e semear um mundo novo”). Um “mundo novo” querendo frear o progresso e criticando a tecnologia. Nada de novo. A solução para a fome? Fazer a comunhão entre os homens e praticar o amor. Simples, não? O disco também traz em outra faixa a participação de Lula Barbosa e Miriam Mirah, do extinto grupo “Tarankón”. Minha parceria com a amiga Denise Melo, esta sim ótima cantora, durou todo o ano de 1984, e rendeu algumas participações em festivais de compositores. Fomos finalistas no festival do Clube Ipê daquele ano e foi só. Gravada no disco “Direito de Chão”, da gravadora “Verbo Filmes”. Letra do produtor Luiz Walter de Souza. Musica: Andre Barreto. Arranjo: PC Bernardes. Performance: Andre Barreto e Denise Melo.
2. “Palavras Proibidas”. 1987. Fase “Punk-Socialista”. Abandonei a faculdade de publicidade por três anos, decidido a encontrar o meu caminho longe dali. Viajei por várias cidades brasileiras. Em Ouro Preto me envolvi com política estudantil e conheci a literatura socialista, a cartilha de Marx, Engels e companhia limitada. Filiei-me ao PT, participei de greves gerais de 1º de Maio. Compus naquele ano uma série de quatro músicas. São como um grito angustiado. A letra de “Palavras proibidas” saiu de um golpe, coisa que nunca tinha me acontecido. Exige uma revolução socialista urgente, para aplacar o sofrimento de um povo que eu estava começando a conhecer de perto (e também tentar aplacar a minha própria dor por estar completamente perdido àquela altura). A influência da banda Legião Urbana é assumida no contracanto do refrão: “Não temos tempo a perder”, (citação de “Tempo perdido” - Para mim, ainda a melhor canção do rock brasileiro). A letra fala da arrogância dos “velhos que têm preguiça de pensar”, expondo a minha própria arrogância juvenil. A "velhice" é associada à mídia manipuladora e à alienação. O mundo futuro será "tomado" de suas mãos, num levante popular liderado pelo refrão: "Vamos pegar o que é nosso"! A minha questão filosófica pessoal colocada àquela altura é explicitada na frase: “Será que eu vou ter que morrer por pensar em você por você?” A minha angústia é exposta no grito: “Vâmo lá, pôrra!” Foi gravada numa tarde de setembro de 1987, nos estúdios da“Verbo Filmes”. Letra, música, arranjos, performance : Andre Barreto.
3. “Tentativa Frustrada”. 1993. Fase em que oferecia minhas composições a pessoas queridas. Desiludido com a carreira musical, e sem vontade de compor mais nada que tentasse salvar o mundo, resolvi cuidar da minha vida e das pessoas que amava. Dava músicas como presentes de aniversário. Irmã, mãe, namorada, etc.. Fiz esta para mamãe, após uma fase difícil do nosso relacionamento, alguns anos após a morte do papai. A agressividade da fase anterior evidentemente está mais atenuada nessa canção, e um lirismo nostálgico emerge das profundezas. Marcou o início de um período de separação. Há um rápido solo de gaita, antes da repetição parcial da segunda estrofe. Naquele período, eu era “Crooner” da noite de São Paulo, e meu estilo preferido era a música “Folk” acompanhada por gaita e violão, “alá” Bob Dylan e Neil Young. Essa gravação quase foi perdida para sempre por um descuido meu, que gravei sem querer por cima da fita cassete (Outras gravações estão perdidas para sempre). Letra, música, arranjos e performance: Andre Barreto.
4. “Gente como a gente”. 1999. Fase de parceria com Eliane Iglesias. Marca meu interesse maior por arranjos e por música instrumental. Estava cursando o curso de bacharelado em música. A Eliane Iglesias, minha prima, estava atuando como escritora e produtora teatral, com talento para comédias. A peça contava a história de um programa de rádio noturno que entretia pessoas solitárias, e a relação engraçada que se seguiu entre o locutor e uma ouvinte. Tentei dar um sabor jazzístico para a canção da Eliane, que me entregou um mini cassete com gravação caseira, à capela. Harmonizei, arranjei e gravamos num estúdio em Santana, zona norte de São Paulo. A música foi tema da peça de mesmo nome, em cartaz no teatro Procópio Ferreira, Com Leão Lobo e Roberta “Close” no elenco principal. Composição de Eliane Iglesias. Harmonia, Arranjo e performance : Andre Barreto. Gislaine Ribeiro nos vocais.
Abraços.
3 comentários:
My Dear,
Que bom ler você e saber da sua vida!
Sabe o que? Seja narcisista sim, de forma saudável, e vá se expondo sem medo. Pois a sua estória é única e inspiradora. Quem não gostar que vire a página. Simples.
Como posso ouvir suas músicas?
Andrea
Déia:
Espero que goste delas..
Vá ao link "Download MP3 - Fase a fase. Abrirá minha página do myspace. Aí é só clicar em cima da música.
Bjs e saudades!
velho, aquela palavras proibídas parece algo que o raul seixas cantaria! tá muito legal!
tentativa frustrada tá muito legal tbm... ainda não ouvi as outras, ouvirei e então farei os comentários!
abraço rapaz, se tem que mostrar as músicas pra gente na aula de violão! apesar de não termos muitas, no fim do ano até dá não é?
abraço!
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