Contei aqui a história de como a Gis, minha mulher, se tornou síndica do prédio em que moramos.
Contarei agora os acontecimentos seguintes. Vou me referir a Gis apenas como a síndica, para facilitar a narrativa. Após a ressaca da vitória, era comum ouvir nos corredores do prédio comentários da oposição do tipo Ih, isso aí não vai dar em nada... Com tanto por fazer, tantas melhorias abortadas por má administração, incompetência, irresponsabilidade, precisávamos aprender a lidar com a oposição ferida, que deixou claro de início que ia trabalhar contra. Tinham agora muito tempo ocioso, já que seu brinquedo preferido, o prédio, não estava mais disponível. O cheiro de coisa errada no ar ficava mais forte conforme a síndica tomava pé da situação. Na primeira semana chamou os sete funcionários para uma conversa.
Estabeleceu novas normas de convivência. Novos procedimentos de rotina. Faxina geral nas escadas, áreas comuns. Um ato simbólico. Uma declaração de intenção. Melhorou as condições da guarita, a higiene dos banheiros, arrumou a bagunça das salas do térreo, usados como depósito de porcarias.
Estabeleceu novas normas de convivência. Novos procedimentos de rotina. Faxina geral nas escadas, áreas comuns. Um ato simbólico. Uma declaração de intenção. Melhorou as condições da guarita, a higiene dos banheiros, arrumou a bagunça das salas do térreo, usados como depósito de porcarias.
O zelador foi proibido de fazer obras em apartamentos no horário de trabalho. Foi obrigado a tirar seu carro da vaga usada irregularmente. Passou a cumprir o que descrevia seu contrato. Seguiu com a pequena revolução. Novo escalonamento de horário de folga. Corte de horas extras. Resultado imediato? Economia de uma pequena fortuna. O nosso caixa começou a melhorar.
Ralos de desperdício agora no radar. A conta permanente na loja de materiais de construção. Os gastos mensais com material de limpeza, em torno de R $600,00 por mês antes de agosto. A nova síndica gastou R$70,00 (setembro de 2008) em produtos que duraram até o natal.
Passada a lua de mel de algumas semanas, a administradora revelou seus velhos hábitos. Não faziam nada. Não atendiam telefone, não passavam informação. A síndica aguentou três meses até mudar a administração. Furor e indignação. A oposição, ainda abalada pela perda da eleição, saiu da toca disposta a arrancar a cabeça da síndica. Numa ação articulada, a administradora recusou-se a entregar os documentos e bloqueou a conta bancária do prédio. A oposição afinava o discurso e se preparava para a guerra. Convocaram uma assembléia extraordinária alegando que durante a eleição a síndica usou duas procurações irregulares para se eleger, e que seu mandato deveria ser anulado imediatamente. Cinco pessoas assinaram um abaixo assinado que sustentava a manobra. A tal assembléia extraordinária teria lugar em cinco dias.
A síndica averiguou se as procurações eram de fato irregulares. Pura invenção. As procurações estavam em ordem para votar na assembléia. Quem assinou o documento seria indiciado mais tarde a explicar em juízo o ocorrido.
Farsa desmontada, mudou - se a estratégia. Recorrer a interpretação do regimento interno à luz do código civil. Aí nosso novo administrador, o Dr. Edson, mostrou a que veio. Combateu a truculência com argumentos e amansou os ânimos dos moradores, que se exaltavam a cada novo boato. A tática era sempre a mesma. Criar uma pseudo - notícia comprometedora para a síndica, alimentando a chama do tititi. No último momento, conseguimos uma liminar da juíza da vara local invalidando a assembléia extraordinária. A senhora é porreta mesmo hein? Todo mundo querendo te derrubar e a senhora não cai! O comentário da funcionária diz tudo sobre aqueles dias. Na hora marcada da tal assembléia descemos todos para um ato público de repúdio à tentativa de golpe, e em apoio à síndica. Foi um dia porreta, uma vitória, uma consolidação da nova gestão.
Nos meses seguintes, novas baixarias. Acusaram-na de tudo. De falsidade ideológica (usar nome falso), de maus tratos aos funcionários, de querer dar o golpe no condomínio, de ser a culpada pela falta de energia elétrica na rua. De criar um clima de desarmonia no prédio. Bem, a maioria silenciosa resolveu sair da toca e participar da vida política do prédio. Eis a desarmonia a qual se referiram. Sem ter em quem mandar e a quem abusar, os ex - bacanas sofriam de vaidade ferida. Os funcionários, descontentes por se verem obrigados a... trabalhar, oscilavam em sua lealdade, na esperança de que a síndica não segurasse a pressão e eventualmente caisse. Não caiu. Nesses meses a força da síndica vinha da união de seu eleitorado, cansada dos desmandos do zelador e da petulância dos antigos caciques. Descobrimos com o tempo que a oposição mal entendia de leis, mal sabia interpretar um documento, mal sabia argumentar. Eram bons em fazer picuinha sistemática, e só. Eram um ou dois senhores metidos a sabidos mais um monte de paus mandados, que viviam se enrolando sozinhos. Quase engraçado, se não enchessem tanto o saco. Como essa senhora, que argumentou numa assembléia: Uma oposição que concorda com tudo é burra. Respondo com prazer: Uma oposição que questiona tudo é igualmente burra.
Continua...
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