Imagem - Jefferson Garrido.
A
vida não é só sofrimento. Coisas extraordinárias podem acontecer.
Quando menos esperamos. Na próxima curva do rio.
Quero
que você avalie o meu último violão.
Sua voz não
escondia o entusiasmo. Meu amigo Jefferson Garrido terminara de
construir seu violão número dez. Fez o curso de Lutheria junto com
seu pai. Em pouco tempo já tinha vendido vários instrumentos e
recebido excelentes feedbacks. Tem um blog para divulgar seu
trabalho
Nossa
amizade cresceu em torno da mesma paixão. A Música Erudita para
Violão. Já era exímio violonista e se aventurava no campo
fascinante da construção de instrumentos musicais. Ao querer me
mostrar seu violão pretendia, conforme me dissera, ter um parecer
meu sobre seu trabalho como Luthier.
Quero uma segunda opinião,
justificou.
Os violões foram saindo, as primeiras vendas
confirmadas, e a paixão pelo ofício aumentou. “Reservo minha
sexta feira e sábado para a construção de violões”,
confidenciou. Está claro que esse é seu caminho. Ele, sendo ótimo
violonista, já sacou que seu produto é bom.
Quando
posso passar aí?
Marcamos
o encontro no final de março, uma segunda à noite. Nossos encontros
tem sido raros. Houve um tempo em que nos víamos diariamente.
Faculdade de Música, mais de dez anos atrás. Trabalhamos repertório
de dueto nas aulas de música de câmara. Em 2007, retomamos a idéia.
Chegamos a ensaiar oito músicas. Veio 2008 e ficamos sem horário.
Ele chegou a compor uma peça para o dueto. Nunca conseguimos
prepará-la.
Na
segunda feira, voltava à pé do trabalho. Jefferson passou na mesma
rua, me viu e buzinou. Levou – me de carona. Ao entrar no carro,
notei o estojo novinho no chão atrás. Ele daria umas aulas antes de
voltar à noite. Aproveitei e subi com o violão novo para a minha
casa. Talvez tivesse tempo de experimentá - lo antes do encontro.
Tomei
banho, dormi, comi. Pelas tantas, abri o estojo. Arrisquei um velho
Villa Lobos. Minhas mãos completamente presas pela ausência da
prática diária. O violão, novinho, me chamando, me convidando. O
cheiro do abeto e da laca. O som virgem. É difícil descrever um
som. Veja ao menos as fotos:
O
tamanho do corpo ficou perfeito para mim. Achei as cordas um
pouco altas na altura da casa doze. Precisa ser alta nesse
ponto para evitar que trasteje, me explicaria na mesma noite. O
Modelo é Clássico. Tampo de Abeto. Fundo e laterais de jacarandá
da Bahia, cada vez mais raros (e cada vez mais caros). O braço de
cedro. Escala e cavalete também de jacarandá da Bahia. Espelho da
mão de Imbuia. Os filetes de Imbuia com detalhes em Wengue e
Caixeta. As tarrachas são da marca alemã Rubner, O acabamento em
laca de nitrocelulose. Foi finalizado em 20 de Março de 2010 (ou
seja, alguns dias antes).
Jefferson
chegou depois das sete. Sentamos na sala. Peguei o meu Violão Ramón
Coelho ( um violão que ele já conhecia, do Luthier mineiro) para
compararmos. Toquei um pouco. Depois ele. Mostrou – me a peça El
último tremolo do compositor paraguaio Augustin Barrios
Comparamos
com o Ramón Coelho. O Ramón é maior. Acabamento rústico. O timbre
agressivo e projetado. Bem aberto. Agudos por toda parte. O som do
Garrido é doce. Permite variações, nuances timbristicos. Curta no
vídeo as variações de timbre e dinâmica que o Jefferson tirou com
ele no estudo número um do Leo Browner
Depois
de um tempo, perguntou:
Então,
o que achou?
Antes
de terminar meu parecer ele cortou:
É
seu. Fiz para você.
Como
é que é?
Não
sabia o que fazer ou o que dizer. Estava diante do melhor presente que qualquer
amigo jamais havia me dado. Minha reação seguinte foi negar.
Não
posso aceitar.
Ele
continuou:
Você não está entendendo. Não
tive essa idéia agora. Já fiz pensando em te dar.
Há
um tempo estou querendo te dar um presente, em agradecimento aos
alunos que você me indicou nesses anos. Como agora sou um Luthier, o
que mais poderia te dar?
Jamais
desconfiei do plano. A surpresa foi total e desconcertante. Ele não
sabe, mas me deu muito mais que um violão. Devolveu – me uma
esperança. Uma alegria de viver perdida nas agruras desse último
ano, que contei ( em parte) nesse Blog.
Devolveu
– me uma leveza só desvelada na surpresa absoluta, maravilhosa,
sem aviso prévio.
O
Jefferson dedicou a mim e ao violão uma postagem no seu Blog. Veja o
link
Agora
estou vendendo meus outros dois violões de Luthier. O Ramón Coelho
e o José Montezano. Informações, preço e fotos no Link
Postei
em 2007 sobre o Zé Montezano, Luthier que fez um dos violões.
Se
você se interessar mande – me um email (veja no meu perfil).
Vou
ficar só com o Garrido. Com ele, tenho saído de manhã para trabalhar louco para voltar
logo para casa e tocar.
Antes de ir embora, lembrei do meu parceiro Caetano. Compomos isto juntos:
Antes de ir embora, lembrei do meu parceiro Caetano. Compomos isto juntos:
Como é bom poder tocar
um instrumento feito para você por um grande amigo.
Valeu
Jeff. Continue assim, sempre me inspirando.
Sucesso e abraço.
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