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domingo, 8 de janeiro de 2012

Sobre as origens deste Blog - Parte dois


uma estranha realidade do Carlos Castaneda em São Bernardo do Campo. Era 1982, eu estava com quinze anos. Andava meio para baixo por mudar do prédio antigo. Também a nova cidade me privava do futebol e dos amigos, mas logo me daria em troca a música e os livros.
Aquele livro era bem estranho e me identifiquei de imediato. Descrevia a pesquisa de campo do antropólogo Carlos Castaneda da UCLA com os  índios Yaquis na fronteira dos EUA com o México. 


O trabalho de campo inicial foi virado de cabeça para baixo pela figura do índio Don Juan, um Nagual ou mestre Xamã que resolveu transformar o pesquisador em aprendiz de feiticeiro. O antropólogo lutou contra essa nova dinâmica na relação mas acabou cedendo. A partir daí o índio estraçalhará sem piedade o senso de lógica e de normalidade de seu pupilo. Ele presenciará homens se transformarem em corvos, conversará com insetos e verá guerreiros flutuando em penhascos. Castaneda desconfia que o Nagual está manipulando  sua percepção. Descobre que ele de fato está, mas para fins específicos. O Nagual utiliza - se de uma antiga técnica dos mestres toltecas para alterar sua consciência. Golpeia seu omoplata de tal maneira que o aprendiz entra num estado de consciência intensificada.

O que quer que aconteça nesse estado é esquecido no retorno ao estado normal. O Nagual o conduz nestas duas vidas paralelas que não se comunicam ou se recordam uma da outra. Quando em consciência intensificada o índio o apresenta a outros feiticeiros de seu grupo e o inicia nos ensinamentos do Guerreiro Impecável. Enquanto isso, no estado normal, diverte - se às custas do pobre cientista que luta para manter seu mundo de pé, frente as absurdas situações que o Nagual lhe apresenta. Ele quer de qualquer maneira destronar a razão cartesiana do pedestal a que Carlos lhe atribui. O cientista, por sua vez, luta com todas as suas forças para preservá - la. E a história assim segue, com muitas situações engraçadas. O desconcertado pesquisador vê - se entalado em reinos espirituais absurdos habitados por entidades antropomórficas bizarras. As aventuras nos mundos paralelos começam sempre à beira de um riacho inocente, ou um desfiladeiro, cachoeira ou deserto. Também os animais - entidades, os mensageiros dos espiritos da natureza: corvos, chacais, insetos e corujas marcam presença, salvando ou ajudando o pobre homem. 

Castaneda deve aprender a economizar sua cota de energia finita. Precisa também juntar o aprendizado que obteve nos dois níveis de consciência para a realização de uma tarefa final: Penetrar o desconhecido de forma consciente e voltar para contar a história. E deve fazer isso através de um ato inexplicável: Saltar para a morte  num abismo. Quanto mais estranha a história ficava mais ela parecia fazer sentido para mim. Impressionava -me a dura mas leal relação do mestre com o aprendiz. Desejei ardentemente encontrar aquele Nagual. Desejei que ele me fizesse seu aprendiz e que me ensinasse seu caminho com o coração rumo à liberdade total e à arte da manipulação da consciência. 

Deitado na cama, ia lendo os relatos incríveis de Carlos Castaneda com o Nagual Don Juan. A trilha sonora oficial dessa leitura foi Close to the Edge, do Yes. Aquele duelo entre os teclados de Rick Wakeman e a guitarra enfeitiçada de Steve Howe até hoje me transforma em corvo.

Ao final daquele ano arriscava os primeiros acordes num violão esquecido lá em casa. Frequentei a escolinha de música do bairro, mas peguei a manha de tocar compondo e explorando sonoridades. Fiz umas trinta músicas em poucos meses. Trancado no quarto cantava sobre o amor, a amizade, as guerras nucleares, aventuras, fugas de casa, esoterismo e ufologia. No ano seguinte debutava no palco para cantar a música do Eric que morreu (veja post anterior). Esta abaixo foi composta na época da leitura de Uma estranha realidade.


A Procura (1982)

Às vezes eu me sinto assim/
Vendo no mundo um abismo sem fim/
De lendas e enigmas/
De mistério e segredos/
E são tantas as perguntas/
Que faço sem medo/
Eu quero a verdade/
Chega de ilusão.


E nesse ideal/
Busco a religião/
Procuro nos búzios/
Leio minha mão/
Dou a volta no mundo/
Até bebo a poção/
E atrás de um escudo/
Vou perdendo a razão/
Eu quero a verdade/
Desta busca em vão.


E o cruel caminho da desilusão/
Me fez refletir e ampliar a visão/
A verdade profunda/
Está dentro de mim/
Mas encerro a minha busca/
Eu amo a minha ilusão/
Por isso é que às vezes eu me sinto assim/
Às vezes eu me sinto assim...


Frequentava a casa do Renato, na rua Sabará. Ele estudava no Colégio Rio Branco e vivia me contando sobre um certo bedel que trabalhava lá. Um sujeito afável, de fala mansa e muito reservado. Dizia - se que sabia de segredos e que pertencia a uma irmandade secreta. Eventualmente contava histórias aos alunos sempre com moral no fim ou com cunho pedagógico. Os alunos gostavam de seu estilo, diferente dos outros bedéis que esculachavam  as crianças.


Você precisa conhecê -lo! Repetia meu amigo. 

Estava um dia no colégio Rio Branco com o Renato e fui apresentado ao tal bedel. Falava com simplicidade, discrição e inteligência. Sim, esse é um cara interessante, pensei comigo. Percebendo meu interesse, convidou - nos para sua biblioteca naquela tarde. Após o término das aulas, caminhamos até sua casa, não longe dali, no bairro de Higienópolis. A casa era minúscula, mas limpa e bem arrumada. A biblioteca circulava, sob estantes de tábua, toda a área interna construída. O homem morava sozinho com seus livros e seus segredos. E ali estávamos, espreitando - o à beira de seu mundo, inacessível para nós. 

Perguntei se ele conhecia o Carlos Castaneda. Pretendia ler possíveis mensagens não verbais na sua resposta, e quem sabe captar alguma mensagem oculta direcionada a mim do tipo: Eu sou um Nagual e farei de você meu aprendiz. Ele olhou - me e sorriu, talvez lembrando de si próprio quando com a minha idade. Disse que conhecia mas que seguia outra linha filosófica. Previsível, pensei. Um Nagual jamais assumiria sua identidade. Eu me sentia encantado com a atmosfera benigna daquela casa. Era como estar na presença do Grão Mestre em um Templo Maçônico. 

Aquele homem sabia muitas coisas. Claro que eu o idealizava. Claro que deveriam haver coisas negativas a seu respeito. Mas o que poderia se esperar de um adolescente deslumbrado naquela situação ? Eu buscava ídolos; modelos a seguir. E também um Nagual. Enquanto sentado ali na cadeira com aquele homem minha alma adolescente transbordava de gratidão. Isso foi o mais próximo que conseguimos chegar de um mestre! confidenciei ao Renato, voltando de noite para sua casa. Nunca mais soube dele. Estranho que pareça, assim como ele também falo manso e sou reservado. Assim como ele virei um buscador e trabalho numa escola. Assim como ele tenho meus defeitos e guardo na estante meus segredos. Teria o bedel me conduzido em estado de consciência intensificada? 

4 comentários:

Jefferson Garrido disse...

No aguardo do póximo...

Não demore muito, sou um pouco ansioso, rsrsrs

abraço

Andre Barreto disse...

Que legal que você está acompanhando Jeff. Vou me esforçar! Um abraço.

Anônimo disse...

Legal encontrar alguém que tbm leu Uma Estranha Realidade!! Li este livro em 1982 tbm... eu morava em governador Valadares/MG. Li tbm O Presente da Águia e A Erva do Diabo. Puxa... eu tbm viva sonhando encontrar um mestre que me iniciaria nos rituais para além da consciência. Prazer em conhecê-lo André. Abraço

Andre Barreto disse...

O prazer é meu amigo. Obrigado por deixar seu comentário.