Porque os odiamos tanto? Fui para lá agora em Julho e voltei enamorado pelo povo argentino e pela cidade de Buenos Aires. Seria essa hostilidade justificada? No dia seguinte à nossa volta ao Brasil assistimos da minha janela um espetáculo de horror quando torcedores do Boca Juniors foram encurralados e atacados com paus, garrafas e rojões por uma horda enfurecida. E não eram apenas corinthianos os agressores! Todos que ali passaram tiraram sua casquinha. Alguns aos risos. Foi um linchamento físico e moral. Repare que os brasileiros ganharam a libertadores. O que teria acontecido se o corinthians tivesse perdido? Perplexo com tamanha animosidade lembrei - me do povo de Buenos Aires e de como fomos bem recebidos por lá. E, de novo, exatamente como no Canadá, senti vergonha do meu País.
Embarcamos no dia do primeiro jogo da final da libertadores entre Corinthians e Boca. No mesmo vôo de um grupo de torcedores brasileiros. Talvez por serem um bando de loucos, acharam -se no direito de abolir todas as convenções civilizatórias. A imbecilidade do seu comportamento me causou assombro.
Voltamos ao Brasil na semana seguinte, na véspera do segundo jogo da final. No vôo, vários torcedores do Boca. Lá vamos nós de novo! pensei. Mas o grupo era de argentinos, e a diferença educacional logo ficou evidente.
A cidade de Buenos Aires é como um imenso bairro de Higienópolis, só que acrescidos de palácios históricos. Andamos à pé, de ônibus, de metrô. Tanto de dia como de noite. A cidade é magnífica depois que anoitece. Todos fora de casa, nas suas ruas largas, nas suas incríveis livrarias e nos milhares de cafés. Fizemos o circuito turistico básico, com visitas à Floralis Generica e ao Museu Nacional de Belas Artes. Nós, paulistanos não faríamos feio frente a eles até a década de vinte ou trinta do século passado. Infelizmente os nossos melhores ícones aquitetônicos como o Palacete Santa Helena jazem há décadas sob prédios comerciais horrendos, pátios de estacionamento e avenidas estreitas ou sem calçada.
Mesmo com toda a beleza de sua capital, o melhor da argentina são os argentinos. Educados, inteligentes, elegantes, carinhosos. E muito engajados politicamente. Testemunhamos várias manifestações de populares nas ruas. Chegamos no dia de uma passeata de caminhoneiros que praticamente fechou o centro da cidade. O taxi nos deixou há dez quadras do hotel. Cruzamos no meio da manifestação com nossas malas, em meio a gritos contra o governo de Cristina El Loca Kirchner . Em Palermo uma multidão de moradores se reuniu em frente à delegacia de polícia para exigir mais segurança e fazer vigília pela morte de dois irmãos comerciantes assassinados. Aquilo ocupou o noticiário por dias. Os argentinos, quando se sentem lesados, se mobilizam para valer. Nestes nossos dias de pizza sabor mensalão isto chamou demais a minha atenção. Como somos bunda - moles no Brasil!
Durante um dos nossos passeios a poesia - letra do Rock argentino extravasava forte nos alto - falantes do taxi. Cheia de estilo, depressiva, existencialista. Comentei com o taxista, um rapaz estilo calado. Perguntei que rádio era. Explicou -me que não era rádio, mas um CD com coletânea que ele mesmo gravara. Contei que adorava bisbilhotar no dial das FMs, e que tinha adotado em Buenos Aires a ótima Imagina FM, 104,3 Gostava da mistura de Rock inglês e pop intercalado com boas bandas locais. Quando chegamos, o rapaz simplesmente nos deu o CD de presente.
Buenos Aires é mais generosa com os ciclistas que Sampa. O sistema de empréstimos de bicicletas públicas está por toda a região central mas só atende aos moradores. Os turistas dependem de sistemas de alugueis de bike como o da loja La Bicicleta Naranja
No dia em que combinamos pedalar fez muuito frio e decidimos ir de metro ao Museu do Holocausto.
O metrô deles é um dos mais antigos do mundo. Os túneis são claustrofóbicos e lembram Bunkers e abrigos anti - aéreos de filmes da segunda guerra.
A cidade realmente me impressionou. Olha que nem fomos a tantos lugares assim. Dá para ficar um mês e não ver tudo. Não imaginava que poderia encontrar um lugar tão parecido com Paris ou Budapeste há três horas de voo de São Paulo. Puerto Madero me fez refletir bastante sobre o potencial de revitalização de muitas regiões de São Paulo, em especial sobre o Projeto Nova Luz. Voltando à Sampa por um momento, é espantoso como a população mais interessada, formada pelos moradores da região, é tão míope em relação a ele. Puerto Madero é um bairro vizinho às regiões históricas de San Thelmo e La Boca que foi revitalizado e ficou lindo e valorizado. O projeto Nova Luz já aprovado pela prefeitura de São Paulo é também estupendo e poderá transformar o bairro da Luz num Puerto Madero sem mexer nos prédios históricos, criando um magnífico polo de empregos e moradia no centro. Três tipos de pessoas criticam o Nova Luz: Os comerciantes que burlam o fisco (e que jamais confessarão os motivos reais de suas críticas: perder a boquinha das vendas sem nota fiscal). Os moradores da região, pessoas simples e facilmente manipuladas pelo discurso alarmista - oportunista (O Nova Luz vai roubar sua moradia, seu emprego, etc). O terceiro tipo é formado por candidatos à prefeitura que prometem qualquer coisa em troca de votos. São os reis da demagogia. Quatro deles já assinaram cartas de compromissos prometendo rever o projeto, caso eleitos. Será que Sampa vai superar seu complexo de proletário, assumir sua grandeza e construir seu Puerto Madero na Luz?
Na chegada, a maioria dos argentinos que estavam no avião com a gente desceu no nosso ponto, na praça da República. No dia seguinte estavam por todos os lados com suas camisas azuis e amarelas, fazendo compras, andando pelas ruas em grupo, próximo à minha casa. Não demorou para constatarmos que estavam todos num hotel de frente. O ponto de encontro do esquenta dos caras antes da partida era ali, a cinquenta metros da minha janela. Era como se Buenos Aires tivesse me seguido até em casa. Horas depois no mesmo local voltei a vê -los, cercados, apanhando e correndo em desespero (Achei este desabafo do jornalista Julio Gomes sobre a estupidez imperante no futebol brasileiro. Faço minhas as suas palavras).
Penso sinceramente que nós brasileiros devemos desculpas aos argentinos. Temos inveja porque eles moram na cidade mais bonita da América Latina. Digo convicto sem nem ver as outras cidades! Sejamos honestos: Não gostamos dos argentinos porque eles são melhores que nós. No futebol, na aparência, e naquilo que realmente interessa: Educação e Civilização. Não gostamos porque perto deles parecemos acomodados, violentos, toscos e ignorantes.
PS - Tá. O Rio também é lindo. Mas é uma zona.
2 comentários:
Muito legal Andre! É bom saber que não estou sozinho em relação ao que penso do povo argentino, rsrs
grande abraço
Legal, Jeff. Se formos expulsos do Brasil por escrever isso podemos montar uma república em Buenos Aires, rsrs
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