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sábado, 3 de novembro de 2007

Gente em construção


Foto: Renato Mader- Encontro do Acampa em Julho 07.
Now the years are Rolling by me/They are rockin´evenly/I am older that I once was/Yonger than I´ll be but that´s not unusual/ No, it isn´t strange/After changes upon changes we are more or less the same”Trecho de “The Boxer” de Paul Simon, 1968.

Cena um: 1992 - Meu principal objetivo era ser um guerreiro Tolteca. Resolvi seguir à risca os ensinamentos e comecei a prática chamada “apagar minha história pessoal”. O objetivo era redirecionar toda a energia possível ao meu grupo de guerreiros e nossas práticas. Metade da tarefa foi realizada com sucesso: Abandonei todos os meus preciosos amigos e pessoas mais próximas. Encontrei-me com cada um e silenciosamente, sem revelar o que estava acontecendo, despedi-me de todos.
A segunda e necessária etapa dessa prática nunca foi concluída; Nunca localizei o meu grupo de guerreiros Toltecas. O que restou para mim dessa aventura foi o vazio de anos de solidão e culpa paralisante, que me impediu iniciar reaproximações.


Cena dois: 2004 - Minha turma do colegial comemorou 20 anos de formatura. Estranho e familiar foi aquela experiência de rever antigos colegas. Uns carecas e gordos. Outros marcados por sofrimento. Uns cruzaram mundo. Outros ainda moram na mesma casa. Uns já casaram três vezes. Outros ainda casados com a mesma namorada da escola. Uns viraram advogados tempo integral. Outros ainda estão adolescentes. Triste, reconheço os poucos laços que restaram para mim desse grupo.


Cena três: 2007 - Em Julho deste ano, velhos e queridos amigos de infância se encontraram no acampamento de férias mais legal do planeta. Quem viveu aquilo sabe do que estou falando. Não pude estar lá fisicamente por causa da minha cirurgia. Como deve ter sido legal e estranho! As crianças viraram homens e mulheres, alguns casados e com filhos. Chamado carinhosamente de “acampa”, todos nós tivemos nossas iniciações amorosas lá, em meio às nogueiras e ao frio de julho. Lembranças intensas e queridas. As muitas histórias do acampa são entretenimento para horas de churrasco e cerveja.

Cena quatro: 2007 - Nestes últimos meses, por causa deste blog fiz contato com antigos amigos ao redor do mundo. Falei com a Mafê na Espanha, com o Fábio, Juliano e com a Déia nos EUA, com a Laurinha , com o Renatão. Recebi homenagem do Rodrigo Amaral em seu blog “parole parole”.

Interessante notar como a vida os transformou. Quem são essas pessoas agora? Vamos tateando com cuidado para descobrir. Então, percebo que do outro lado está acontecendo um processo parecido: Estão avaliando como a vida me modificou! Temos a sensação emocional de que somos entidades fixas. Racionalmente, dizemos: “Não, eu sei , mudei muito, etc.” Mas internamente sentimos que somos iguais sempre. Isto é terrivelmente ambíguo.


A pós - modernidade inventou o ser humano como processo. Não somos algo fixo. Estamos em mudança. Somos mudança.

Ouvi recentemente uma gravação minha de 10 anos atrás. Aquela pessoa falando não sou eu! E este sotaque? Quem estava copiando naquela época? E a quem estou copiando hoje? Vamos mudando tão aos pouquinhos que não detectamos.

Nos casais, vivenciar a si e ao outro como pessoas novas é o segredo para manter viva a paixão no longo prazo. Quando permanecemos mudando, a pessoa que está casada com a gente é sempre “nova”, é sempre “outra”. A relação mantém o frescor, e a paixão é renovada. Apaixonamos –nos pela mesma - nova pessoa. O problema é que acreditamos que, após meses de convivência já conhecemos nosso companheiro totalmente; Já vimos tudo! Temos agora que “aturar”. O prazer estará em breve em outro lugar. Deveríamos ir para as relações como aprendizes de nós mesmos e do outro. Jamais considerar que conhecemos totalmente alguém. Seria o fim da aventura. Jamais nos conheceremos completamente. Somos seres sem fundo. Não há limite em até aonde chegar, revelar, explorar com o outro.

Don Beck, autor de “Spiral Dynamics “(www.spiraldynamics.org) avalia que há três tipos de seres humanos, no que se refere ao seu potencial para mudança: Pessoas em Estado aberto fluem com as mudanças. Pessoas em estado retido mudam, mas com alguma dificuldade. Pessoas em estado fechado congelam, não mudam e são atropeladas pela vida.

A qual tipo eu pertenço? E você, velho amigo? Que tipo é você?

Dou aulas para adolescentes. Quando nos encontramos, eu digo: "E aí, velho"? Meus novos amigos adolescentes são os “velhos”. E meus velhos amigos são "novos"!

Segue abaixo mais teoria sobre as idéias acima. Quero terminar repetindo o que já disse a alguns de meus amigos, mas não disse ainda a todos: Que os amo muito. Era só isso que queria dizer desde o início desse artigo. Amigos que juntos voltamos a ser por momentos aquela pessoa de antes; Pessoa que embora não nos defina mais (hoje somos mais largos), ainda se esconde em nós, desejosa por existir.

Beijos.

Castaneda e os Toltecas.

A prática espiritual Tolteca, segundo a obra de Carlos Castaneda, envolve o domínio de três artes: A arte da “espreita” (“relacionar”-se com os relacionamentos), a arte de “sonhar” (manipulação da consciência, principalmente através de técnicas de sonho lúcido e projeção da consciência) e a arte do “intento” (domínio do espírito propriamente dito, chamado pelos toltecas de “Águia”. Segundo o antigo povo, assim como a Águia, o espírito “come” literalmente nossa consciência logo após o momento da morte. Isso não era uma crença deles. Os guerreiros iniciados podiam efetivamente “ver” esse processo acontecendo). Cada arte é completa em si mesma e envolve muitas outras subpráticas. A prática de “apagar a historia pessoal” serve para o que os guerreiros toltecas chamam de “matar a auto-estima” (a palavra “auto-estima” aqui pode ser traduzida como vaidade/orgulho).


Os potenciais de mudança de Don Beck.
A pessoa em estado aberto tem disposição para aceitar novas formas de ser. Luta para remover barreiras para permitir a expressão de diferenças individuais. Revê conceitos e idéias pré-concebidas, atualizando-as constantemente. Antecipa que a mudança é inevitável. Demonstra elasticidade e não corre atrás de modas. Lida eficazmente com barreiras. Tem boa capacidade de ouvir, sem julgamentos, com tolerância e mente aberta. Seu pensamento muda conforme as condições mudam, apresentando portanto mais possibilidades de ajustamento.

O segundo tipo, a pessoa em estado retido, sente relutância em “agitar o barco”. Tenta viver com as barreiras da vida e a elas se ajustar da melhor maneira possível. Vê possibilidade de mudança apenas se as barreiras dentro dela ou da situação forem ultrapassadas. Precisa de mais dissonância para induzir uma mudança. Demonstra stress excessivo, desordens gastrintestinais, comportamentos passivo-agressivos, e outras formas de frustração pessoal e social. Rejeitam modelos transformacionais de mudança. Concentram-se em fórmulas já testadas e reconhecidas. Desculpam-se e racionalizam o “status quo”.

Por fim o terceiro tipo, a pessoa em estado fechado acredita que "isto é tudo o que existe". Para o autor este tipo pode não ter o equipamento neurológico ou as inteligências necessárias para conduzir mudanças. Pode ter sofrido traumas psicológicos. É Incapaz de reconhecer barreiras, muito menos de superá-las. É ameaçado pela mudança e luta para se manter onde está. Mostra inadequação/inadaptabilidade, insaciabilidade (nunca há suficiente), exclusividade (não há outra possibilidade), baixa tolerância à frustração, perfeccionista compulsivo, evita exposição a outras posições ou visões (“não me confundam com fatos; Já formei minha opinião”).


Correntes pós - modernas de pensamento.
A idéia pós-moderna é que conforme a pessoa evolui, vê mundos diferentes. Não é o mesmo mundo visto de pontos de vista diferentes; Mas efetivamente mundos diferentes. Parecem diferentes porque são diferentes.

Para entender a pós - modernidade é preciso entender a modernidade e o paradigma da representação. A idéia de que você tem um sujeito imutável que já nasce pronto de um lado e um mundo imutável dado do outro. Todos os grandes pensadores do iluminismo aceitaram esse paradigma. O espelho da natureza. A idéia de que o mundo poderia ser precisamente e totalmente mapeado. O problema dos mapas modernos, segundo os pós – modernos, é que eles abandonam o cartógrafo! O eu! O eu não cai pronto de pára - quedas na terra! Argumentam os pós-modernistas. O “eu” não chega acabado. Ele tem estruturas próprias que se desenvolvem etapa por etapa, fase por fase. O eu tem uma história. E essa história define o que ele será capaz de ver, entender e ser.

Kant, em sua revolução copernicana, explicou que a “mente forma o mundo mais que o mundo forma a mente”. O “eu” é fruto de contextos dentro de contextos. De cosmo - visões que se desenvolvem.

A partir do eu em construção, definem-se duas abordagens filosóficas na pós-modernidade:

1) Construtivismo extremado, ala Foucault e Derrida. As supostas verdades modernas não são pré-definidas, mas são arbitrarias e ideologicamente orientadas. Tudo é “socialmente construído”. A prática acadêmica aqui é a “desconstrução sistemática”. Se essa visão for levada longe o suficiente, ela anula-se a si própria. “Toda verdade é parcial!” (“exceto a minha!”) bradam os construtivistas extremados. Portanto o que resta no caldo (“des”) construtivista são o narcisismo (“Se nada é substancial, refugio-me na minha subjetividade”) e o niilismo (“nada é especialmente importante, relevante ou vale a pena”).

2) Abordagem mais moderada, desenvolvimentista e evolucionária: Hegel, Marx, Nietzsche, Heidegger, Gebser, Piaget, Habermas, etc. Investigam a história real e o desenvolvimento dos processos, não como cabeçadas arbitrarias, mas como modelos evolucionários, desenvolvimentistas, governados em parte por correntes da própria evolução. E a cada estágio do desenvolvimento o mundo “parece diferente porque o mundo é diferente”. Essa é uma das grandes revelações da pós – modernidade.




Fontes.
Fogo interior” – Castaneda, Carlos. Record. 1984.
“A brief history of everything” – Wilber, Ken. Shambhala. 1996.
“Sipral Dynamics” – Beck, Don; Cowan, Christopher. Blackwell. 1996.
“Criando União” – Pierrakos, Eva, Cultrix. 1999.

2 comentários:

Laura Karman disse...

Vim aqui visitar um lugarzinho especial. Boa música, palavras tocantes, cheiro de infância, adolescência, ventos nostálgicos misturados com atualidades de pensamentos e sentimentos. Na verdade vim em busca de um passado inesquecível pra mim: o passado acampal. Tinha esperança de encontrar algum trecho sobre ele e encontrei. Você definiu muito bem essa coisa misturada que nos tornamos. Ficou em cada um "printado" aquele lugar e tempo, mas ao mesmo tempo todos foram sendo marcados pela vida que vai passando sem pedir passagem. Tenho saudades André, absurdas de tão grandes, daquele tempo. Se existe um plano espiritual melhor que esse planeta (se Deus quiser irei para lá um dia!) tenho certeza que ele é parecido com o acampa.
Quero escutar muito Paul and Simon, Beatles, Guilherme Arantes, supertramp...

Andre Barreto disse...

Querida Laurinha:
Também morro de saudades de tudo aquilo. de alguma maneira desconectei-me de modo muito abrupto do passado, e agora estou correndo atrás do "tempo perdido" (Nossa, lembra dessa, da Legião?).
E você também é parte inesquecível dele.
Bjs.