Chegamos no horário combinado. O taxista estacionou próximo à casa. Toquei a campainha. A rua curvilínea oferecia uma vista quase aérea da periferia de São Paulo. Comigo, dois garotos da escola e o Theo, meu parceiro de filmagem. O Senhor X abriu a porta e gentil, nos convidou a entrar. Você tem cachorro? Perguntei. Eu tinha um, mas morreu, respondeu o Sr. X. Entramos.
Cruzamos o
quintal, garagem e entramos pela cozinha. Fizemos uma rápida
avaliação do melhor local para realizar a filmagem. Decidimos pela
sala. Montamos o equipamento, ligamos a câmera e o Sr X. começou a
falar.
Revelou detalhes da vida de usuário de Maconha, Cocaína e
Crack. De como passou de usuário a distribuidor de drogas. Suas três prisões por tráfico. Contou muitas
outras coisas horríveis, e como o amor por sua família o
redimiu. Ouvimos embasbacados. Conforme a entrevista rolava nosso receio inicial foi dando lugar à compaixão. O Senhor X é um coitado que como milhares de jovens sem orientação caíram no conto hedonista do vigário vigarista: A promessa do prazer perfeito. Sem depois. Mas sempre vem o depois, que é a morada de todos os problemas. Se fosse coisa boa não chamariam de droga, filosofou para a câmera. E concluiu: O caminho das drogas só permite dois destinos possíveis: A prisão ou a morte. Assista um trecho da entrevista aqui
Esse
depoimento faz parte de um filme documentário que estou produzindo
com meus alunos mais a colaboração de muitas pessoas. O projeto tem
este site:
Está tudo
explicado neste link.
Parte do problema do vício parece advir de um tipo de chute que a droga aplica no cérebro. Ouça o que diz o Professor Cláudio Patto:
https://sites.google.com/site/docdrogas/claudio-patto
Parte do problema do vício parece advir de um tipo de chute que a droga aplica no cérebro. Ouça o que diz o Professor Cláudio Patto:
https://sites.google.com/site/docdrogas/claudio-patto
Terminamos
as filmagens em dezembro. Temos hoje seis horas de material filmado, em estado bruto. Até a finalização ainda há um longo caminho. Alguns detalhes da pós – produção ainda estão em aberto, aguardando a resposta de alguns colaboradores.
Durante esse período, entrevistamos muitas pessoas. Pesquisadores, especialistas, professores,
pais de usuários e ex – usuários de drogas. No site há mais
clipes com entrevistas. Uma que também nos marcou foi a entrevista do Zeca.
O Zeca assim como o Sr. X comeu o pão que o diabo amassou. Diferente do Sr. X, deixou - se filmar de frente e revelou sua identidade. Não se envergonha do passado. Costuma dar palestras onde conta sua trajetória pelas drogas. Ex – usuário, o Zeca dirige uma clínica de recuperação
e de tratamento de consumidores de drogas na grande São Paulo.
Meus alunos fizeram todas as entrevistas. Espernearam quando as filmagens eram num sábado ou num domingo de manhã. Mas isto é certo: Não se esquecerão tão cedo dessas conversas.
As entrevistas conduziram conclusões em duas direções. Parte do problema parece estar dentro da pessoa, como atestou o Patto. Olhando também para causas internas, mas de um ponto de vista mais subjetivo, a psiquiatra Doris Moreno destacou em sua entrevista que a impulsividade inerente ao jovem pode colocá -lo em situações de risco.
Mas foi o Senhor X que parece ter ido ao x do problema. Um x literal, com vetores que fatiam nossa visão em quatro quadrantes, como na figura apresentada no link abaixo:
Em nenhum momento o Senhor X se eximiu da responsabilidade pelo estrago que fez a si e aos seus. Ao mesmo tempo descreveu com realismo e sensibilidade a problemática social no entorno da droga e do vício. Ao refletir com seus olhos experientes de quem desceu ao inferno e voltou para contar a história, de quem viu de tudo pelo lado de dentro e pelo lado de fora, de quem já viajou muito tanto sozinho como acompanhado, ele foi o único capaz de reconhecer nuances além de nossas possibilidades analíticas. Ouvindo com cuidado toda a extensão do seu depoimento, percebemos que o problema requer encaminhamentos psicológicos, sócio - grupais , químico - neurológicos e de políticas públicas. Qualquer abordagem que deixe um desses aspectos de fora já está fadada ao fracasso.
O vídeo abaixo reproduz o diálogo entre o jornalista Caco Barcellos e o nóia Valdir em plena Cracolândia, cuja família vendeu um imóvel para pagar o seu tratamento.
Repórter: Em quantas clínicas você já esteve?
Valdir: Em quatro. Todas particulares.
Repórter: Adiantou alguma coisa?
Valdir: Quer saber? realmente? Com sinceridade? Não!
O fracasso e a impotência das ações articuladas pela sociedade sangram pelo depoimento, despido de maquiagem oficial. Depois de falar com tanta gente, para mim fica a sensação de que não há quem tenha ideia do que fazer para resolver o problema. Os agentes de saúde dependerão sempre do insight que faz o viciado querer pular fora. Saber como isso acontece é o grande mistério.
Como declarou o Valdir no vídeo:
Falando de nós, em geral...acho que cada um tem a sua parcela de culpa...em todos os sentidos...
As entrevistas conduziram conclusões em duas direções. Parte do problema parece estar dentro da pessoa, como atestou o Patto. Olhando também para causas internas, mas de um ponto de vista mais subjetivo, a psiquiatra Doris Moreno destacou em sua entrevista que a impulsividade inerente ao jovem pode colocá -lo em situações de risco.
Na outra ponta da balança a pesquisadora Maria de Fátima Padin argumentou que o problema da dependência química é de saúde pública, de políticas públicas. Um problema com causas externas ao indivíduo.
Em nenhum momento o Senhor X se eximiu da responsabilidade pelo estrago que fez a si e aos seus. Ao mesmo tempo descreveu com realismo e sensibilidade a problemática social no entorno da droga e do vício. Ao refletir com seus olhos experientes de quem desceu ao inferno e voltou para contar a história, de quem viu de tudo pelo lado de dentro e pelo lado de fora, de quem já viajou muito tanto sozinho como acompanhado, ele foi o único capaz de reconhecer nuances além de nossas possibilidades analíticas. Ouvindo com cuidado toda a extensão do seu depoimento, percebemos que o problema requer encaminhamentos psicológicos, sócio - grupais , químico - neurológicos e de políticas públicas. Qualquer abordagem que deixe um desses aspectos de fora já está fadada ao fracasso.
O vídeo abaixo reproduz o diálogo entre o jornalista Caco Barcellos e o nóia Valdir em plena Cracolândia, cuja família vendeu um imóvel para pagar o seu tratamento.
Repórter: Em quantas clínicas você já esteve?
Repórter: Adiantou alguma coisa?
Valdir: Quer saber? realmente? Com sinceridade? Não!
O fracasso e a impotência das ações articuladas pela sociedade sangram pelo depoimento, despido de maquiagem oficial. Depois de falar com tanta gente, para mim fica a sensação de que não há quem tenha ideia do que fazer para resolver o problema. Os agentes de saúde dependerão sempre do insight que faz o viciado querer pular fora. Saber como isso acontece é o grande mistério.
Como declarou o Valdir no vídeo:
Falando de nós, em geral...acho que cada um tem a sua parcela de culpa...em todos os sentidos...
Quando tiver novidades sobre este projeto, aviso.
Abraços.
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